Les Portes du Soleil ou lorsqu’un homme rentre au Paradis

Na anterior crónica tinha mencionado uma ida ao Paraíso, pelos vistos até nem fica assim tão longe, isto é a +/- 1h40 de comboio.

Pois é “caros followers”, este pequeno paraíso chama-se “Les Portes du Soleil” (nem de propósito o nome). Trata-se de uma das maiores estâncias de ski do mundo com cerca de 650 kms de trilhos assim como 197 unidades mecânicas para vencer os diferentes desníveis. A área em si é comum à França (desde Morzine) e Suiça (Le Chablais). Mais informações para quem desejar planear uma estadia para praticar BTT ou eventualmente Ski em http://www.portesdusoleil.com/tour-vtt-portes-du-soleil.html.

Eram 09h30 quando cheguei a Champéry 1’035 mts (início do meu périplo), aí tinha um teleférico à espera para me levar de imediato aos 1’935 mts (Croix de Culet), mas aqui o “Je” preferiu contornar e começar a dar ao pedal (afinal foi para isso que vim cá 😊).

Enquanto ganhava ânimo para o que me aguardava, vi chegarem “n” riders (downhilistas), todos equipados a rigor, com as suas bikes todas artilhadas, parecia que tinha entrado num qualquer filme do “Mad Max” (impressionante mesmo). Eis que enquanto admirava a “cena”, vejo um betetista vir ter comigo e que começa a falar-me como se nos conhecêssemos há tempos. Enquanto fluía a conversa vim a saber que me tinha confundido com um colega encontrado na net e com quem tinha marcado uma volta a arrancar de Champéry. Nisso aparece o colega e trocamos emails para próximas voltas, a ver vamos. Durante a conversa falei-lhes da minha volta, sendo que ao ouvirem os locais por onde pretendia passar, olharam-me com aquele sorriso, sim o tal que diz tudo (Um bom prenúncio, pensei eu). Como quem ri por último, ri melhor, vou-lhes enviar a crónica (afinal um deles fala espanhol) e afinal o país pode estar “uma me…”, mas em termos de BTT ainda vamos dando umas cartadas 😊.

Nesta zona realmente quando sobe, sobe mesmo, mas a contemplação das paisagens (as fotos falam por si), rapidamente faz esquecer o sacrifício da subida.

Enquanto subia, cruzei muitos caminheiros, assim como betetistas, downhilistas, todos como devem calcular a descer (por que será? Acredito que não será do Guaraná 😊).

A volta com mais ou menos esforço lá ia fluindo até que a certa altura e porque marcar trilhos via Google Earth tem destas coisas, acabei por penetrar numa pista de downhill.

Realmente tinha achado o trilho um pouco estranho, mas como não tinha alternativas acabei por embarcar na aventura, de curta duração, pois mal tinha começado a descer eis que ouço uns ruídos de metal atrás de mim; viro-me e não é que por pouco não era atropelado por 4 riders todos em fila indiana. “Oh malta, não habia nexexidade, sei que sou lento, mas não sou nenhum caracol e no monte cabem todos, não…”. Uns kms à frente voltei a engrenar no trilho.

Até chegar a Morgins 1’315 mts foi sempre a descer, sempre a abrir através de longos e sinuosos singles. Aí e como o cansaço já era notório (descansem, não tive caibras) e ainda faltavam cerca de 20 kms, dos quais 5 ainda me levariam novamente aos 1’530 mts, colocou-se a questão de continuar via estrada (desistir do trilho inicialmente desenhado) ou voltar a subir. O “bom senso” (dor da desistência superior à prossecução) levou-me a continuar a ascensão. Claro que à medida que avançava amaldiçoei a decisão.

A cereja no “top of the cake” deu-se com cerca de 14 kms sempre a descer até Monthey 408 mts (fim da minha aventura).

No final da volta ainda encontrei um “gentleman” que queria trocar o seu cavalo pela minha fiel amiga (vide foto). No way, Jose…

Acabei por realizar 55 kms, sendo a altitude mínima de 408 mts e a máxima de 1'890 mts. O acumulado de subida foi de 1’550 mts e o de descida de 2’179 mts, ou seja uma volta “mui” interessante.

Por volta das 18h00 cheguei à estação de comboios de Monthey. Entrei no comboio e aguardei a partida, mas eis que passados 10 minutos ouço a estação a informar que devido a uma avaria na linha em Montreux, só haveria ligação até Aigle e que daí e até Villeneuve o transporte se faria via autocarro (estão a imaginar a situação com cerca de 400 passageiros a transbordar). Passados 30 minutos depois do aviso ainda não tínhamos arrancado e durante esse tempo vim a descobrir que afinal a tal avaria se deveu a um suicídio na linha nessa zona (essa malta não poderia ter escolhido outro dia ou mesmo ter aguardado umas horas mais…)

Para mal dos meus pecados a aventura não termina aí, isto é, após uma eternidade o comboio sempre arrancou com destino a Aigle. Toca a descer e aguardar pelo autocarro, afinal em momentos de crise a administração Suíça pouco difere da Portuguesa, pois apenas colocaram um autocarro para efetuar o transbordo das pessoas. Pelas minhas contas o processo (ida e volta do autocarro) demoraria cerca de 2h00. Foi nessa altura que meti conversa com um betetista na mesma situação e propus-lhe que fizéssemos de bicla o trajeto até Villeneuve. Como também tinha chegado à mesma conclusão, anuiu à minha proposta. Chegados a Villeneuve indagamos se havia comboio a sair e a resposta foi negativa. Como já estávamos por tudo (+ km – km), toca a seguir viagem até Montreux. Enquanto pedalávamos vim a descobrir que tinha 63 anos e que também andou para os meus lados (já tinha 88 kms no pêlo).

Com os agradecimentos da CFF (Companhia de Caminhos de Ferro Suíça) acabamos por fazer mais 18 kms, mas como sempre temos de ver o lado positivo da “coisa”, isto é, acabei por conhecer mais um betetista para próximas voltas e este não “brinca em serviço”.

Eram 21h00 quando entrei em casa, mas acreditem que se tratou de um dia muito bem passado.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

Podem visualizar esta crónica com os respetivos comentários às fotos no FORUM BTT. Ler o post (resposta) #183.