Elas não matam, mas aleijam

Há já algum tempo tinha ouvido falar que nas Terras Helvéticas existiam três pistas de “luge” ou se preferirem em português trenó que ultrapassavam os 5 kms sempre a descer, vai daí em fevereiro resolvi com os amigos e a família atacar a número 3 ou seja a dos “Diablerets” com os seus 7,2 kms e um desnível de 542 mts (1’700 mts à 1’158 mts).

A número 1 é a pista de “Gindelwald” com os seus 15 kms e um desnível de 1’132 mts (2’680 mts à 1’034 mts).

A número 2 é a pista de “La Tsoumaz” com os seus 10 kms e um desnível de 834 mts (2’354 mts à 1’506 mts).

Efetuamos nesse dia somente duas descidas e confesso que logo na primeira descida como não podia deixar de ser, aqui o artista que não percebia nada sobre a técnica de travagem acabou por ter um acidente “alone” com algumas mazelas, mas que se tivesse corrido mal talvez não estivesse cá hoje para o contar, passo a explicar para verem que há “perros com sorte” 😊.

Para quem não sabe, conduzir uma luge a descer é como conduzir um equídeo, isto é, para travar a luge deve colocar-se os 2 pés na neve e não apenas um e para fazer com que a luge vire deve puxar-se a corda do mesmo lado para onde se quer virar.

Confesso que no início “ce n’est pas evident” e é aí que as “shits” acontecem.

Ora como dizia, a malta, ou seja, 3 puros sangues lusitanos, logo na primeira descida resolveram apostar quem chegava primeiro cá abaixo. Quando assim é, só pode dar mer.. 😊.

Antes de continuar, quero apenas informar que esta pista em cerca de 5 kms é muito fixe, isto é, não apresenta buracos, deslizamos com bastante velocidade, as descidas não são muito inclinadas, a pista é bastante larga, permitindo boas ultrapassagens sem grande problema, para além de que as bermas são feitas de taludes com perto de um metro de altura; mas nos últimos 2 kms as coisas mudam completamente de figura, passamos a ter uma pista muito mais estreita, cheia de buracos, com inclinações complicadas, e a cereja “in the top of the cake” é o facto da pista ser paralela a uma estrada que dá acesso aos parques de estacionamento, até parece que aqui SIM, querem testar quem tem jeito para a coisa 😊.

Ora como dizia, ia na frente, todo “contentico” a pensar que esta já cá cantava, quando entrei nessa zona e aí a determinada altura tive de travar isto porque ia demasiado embalado e o estreitar da pista afetou-me mentalmente, vai daí toca a meter somente um pé, neste caso o direito.

Nem vos conto amigos, o trenó foge-me todo para a direita, vou bater contra a berma, faço ricochete, vou bater contra a berma oposta e aí novo ricochete e volto a ir para a berma direita, mas aí azar do “cara que gosta de alho”, o talude que faz a berma tem apenas 30 cm de altura, toca a passar por cima e aí sim companheiros, nesse preciso momento enquanto voava julguei estar numa daquelas cenas do “matrix” (quando o gajo se desvia das balas) em que vi claramente visto o que é um tipo ver a estrada a vir ao nosso encontro, ou se preferirem como naquela estória popular em que o sapo que se atira do avião sem paraquedas em queda livre ao ver o pendo a aproximar-se lhe diz “ foge laje, foge que te mato” 😊.

Nesse preciso momento, nenhum carro a subir ou a descer, sorte a minha apesar do meu infortúnio. Pequeno detalhe, a estrada fica um metro abaixo do nível da pista de trenó, portanto já podem ver que a receção não foi doce, aliás “sei como cair de bicla”, aprendi com o tempo, mas cair de trenó, não faço ideia, sei apenas que quando dei por ela já estava a rebolar que nem aquela dança que o crocodilo executa quando quer dar cabo da sua vítima, a chamada dança da morte.

Acredito que tive bastante sorte, verifiquei a ossatura, parecia estar tudo OK, penso que estava em choque, pois o embate no solo foi violento, mas passado algum tempo regressei à normalidade.

Enquanto me recompunha, vi passarem os meus companheiros, mas estes nem por mim deram, acabei por os encontrar no final da pista enquanto esperavam por mim.

Aparentemente tudo parecia estar bem, mas como disse, aparentemente pois como mostra a última foto, este acidente deixou marcas que perduraram por vários meses.

Mas não julguem que por causa deste acidente deixei de fazer trenó, logo a seguir atacamos a segunda descida para a desforra 😊.

Este ano já lá estive por duas vezes.

Caso para dizer como disse Nietzsche “O que não nos mata, torna-nos mais fortes”.

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

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