Das Aiguilles de Baulmes, não tive energia para subir ao Suchet

Começo esta crónica com um pequeno texto d’Olivier de Kersauson, velejador francês e um tipo bastante senão muito simples, cujo título de nobreza (visconde) bastaria para se la péter.

“Le jour où je vais disparaître, j’aurai été poli avec la vie car je l’aurai bien aimée et beaucoup respectée. Je n’ai jamais considéré comme chose négligeable l’odeur des lilas, le bruit du vent dans les feuilles, le bruit du ressac sur le sable lorsque la mer est calme, le clapotis. Tous ces moments que nous donne la nature, je les ai aimés, chéris, choyés. Je suis poli, voilà. Ils font partie de mes promenades et de mes étonnements heureux sans cesse renouvelés. Le passé c’est bien, mais l’exaltation du présent, c’est une façon de se tenir, un devoir.

Dans notre civilisation, on maltraite le présent, on est sans cesse tendu vers ce que l’on voudrait avoir, on ne s’émerveille plus de ce que l’on a. On se plaint de ce que l’on voudrait avoir. Drôle de mentalité ! Se contenter, ce n’est pas péjoratif. Revenir au bonheur de ce que l’on a, c’est un savoir vivre."

Tradução (+/-) 😊

“No dia em que eu desaparecer, terei sido educado com a vida porque a terei amado e respeitado muito. Nunca considerei o cheiro dos lilases, o som do vento nas folhas, o som da rebentação na areia quando o mar está calmo, como desprezível. Todos esses momentos que a natureza nos proporciona, amei-os, acariciei-os, mimei-os. Eu sou educado, aí está. Fazem parte das minhas caminhadas e do meu feliz espanto sempre renovado. O passado é bom, mas a exaltação do presente é uma forma de comportamento, um dever.

Na nossa civilização, maltratamos o presente, estamos constantemente tensos e virados para o que gostaríamos de ter, já não nos maravilhamos com o que temos. Queixamo-nos do que gostaríamos de ter. Mentalidade engraçada, esta! Estar contente não é pejorativo. Voltar à felicidade do que temos é um modo de vida, uma arte de viver."

Todo aquele que escreve, no meu caso, acho que garatujo 😊, gosta de deixar ou transmitir um pouco do seu “eu” aos leitores (m/f), isto porque acredito que aquilo que escrevemos ou a forma como escrevemos, tem muito a ver com aquilo que somos ou n’aquilo que nos fomos transformando com o passar dos anos.

Confesso que desde que me deslocalizei, mudei muito ao longo destes dez anos, nada a ver com as minhas vidas passadas em Portugal. Penso ter-me tornado uma pessoa melhor, mais à escuta, menos individualista, mais paciente com a vida e com as surpresas que esta nos reserva diariamente. Ainda não atingi o nirvana, mas tratando-se de um work in progress, hei-de lá chegar 😊.

Acredito que todo este exercício, me tem permitido encarar estes tempos conturbados em que vivemos de uma forma serena, com esperança e sem ingenuidade (para os mais céticos) de que todos nós e a humanidade na sua globalidade, sairemos desta crise mais humanizados.

Uma coisa é certa, descobri que o segredo da felicidade no dia a dia está na simplicidade com que se vive.

Simples, não é! Dou-vos o benefício da dúvida!

Neste momento, aposto que alguns de vós se questionarão “What the fuc., viraste iurdeiro amigo? Não foi para isso que tiramos bilhete, queremos fotos, queremos fotos”😊.

Vamos lá então ao que interessa, sem mais demoras.

Há mais de seis anos que não ia pedalar para os lados de Yverdon-les-Bains. Quem segue estas crónicas, sabe que não sou muito feliz 😊, quando rolo abaixo dos 2’000 mts.

Este ano, acho que abusei nas altimetrias no meu quintal (Valais). Efetuei voltas não muito longas, abaixo dos 40 kms, mas que me obrigaram a despender muita energia, quer em cima, quer ao lado da minha fiel companheira.

A partir de agora e até que a comichão de passar acima dos 2’000 mts, volte a atacar, vou dedicar-me a um outro tipo de BTT, um BTT com mais kms e menos agressivo fisicamente e mentalmente.

Tinha ouvido falar das “Aiguilles de Baulmes” que não são nem mais nem menos que um conjunto de cristas com mais de 4 km de comprimento. Situam-se 10 km a oeste de Yverdon-les-Bains, 1,5 km a noroeste da aldeia de Baulmes e 1,5 km a sul da aldeia de Sainte-Croix, na fronteira entre estas duas últimas comunas. A fronteira franco-suíça passa a 700 m a oeste da extremidade ocidental das cristas. A altitude da linha da crista varia entre 1.080 e 1.558 m.

Arranquei de “Baulmes” a 634 mts e daí seguiria para as “Aiguilles de Baulmes”, passaria depois pelo “Suchet” a 1’587 mts, para um total de 33 kms. Pouca coisa, dirão vocês, mas como em tudo, nem sempre o que parece, é 😊.

A subida até atingir o topo, ou seja 1’511 mts, fez-se sem grandes complicações, isto é, não tive que caminhar ao lado da minha fiel amiga, mas em muitas ocasiões tive que subir paredes em que um tipo quase andava parado, passo o oxímetro. Foi nessas alturas que fiz apelo à avozinha e só vos posso dizer que por vezes tive pena que esta não tivesse uma irmã gémea 😊.

Aqui e além, fui tirando chapas, já que o tempo esteve divinal. Pude assim documentar o Mont-Blanc com os seus 4’809 mts e o meu quintal de brincadeiras (Valais).

Lá em cima, ainda deu para conversar com alguns caminheiros e com um jovem betetista em semi-rijida que apelaria de “levezinho” e acreditem que não me estou a referir ao ex-jogador de futebol Liedson, que operou naquele club cujos adeptos são chamados de lagartos.

Pequeno momento cultural (isto para quem não sabe, como foi o meu caso até redigir esta crónica)😊.

Sabem porque é que chamam lagartos aos adeptos do Sporting?

No final do ano de 1951, o Sporting lançou uma espécie de títulos, que os sportinguistas podiam comprar, sendo que mais tarde seriam reembolsados do valor investido e que teriam um prémio que seria sorteado na primeira Assembleia Geral após o início das obras.

Tratava-se, portanto, de um mecanismo arcaico muito semelhante ao atual empréstimo obrigacionista, se bem que não pagava juros, embora concedesse um prémio a ser sorteado.

O dinheiro arrecadado pelo Sporting destinava-se a financiar a construção do Estádio José de Alvalade, que foi inaugurado a 10 de junho de 1956.

Ora o que é curioso no meio desta história toda é que os títulos que o Sporting vendia a adeptos e sócios se chamavam «Lagartos». O que significa que aquele que foi, provavelmente, o primeiro empréstimo obrigacionista da história do Sporting significou também a oficialização da alcunha.

Como diria o Fernando Pessa, paz à sua alma “E esta, hein?” 😊.

Enquanto deambulava pelas cristas, compreendi que a descida não iria ser uma mince affaire, isto porque toda a zona era formada por bocados de rocha calcária, pontiaguda, tipo dentes de tubarão. Aliás, esta zona em termos de aspeto “rochamente falando” é muito similar ao que se encontra nas Serras de Aire e Candeeiros.

Só para terem uma ideia da dificuldade, demorei quase 1 hora e meia para percorrer 4 kms a descer (com ela à la mano na maioria das vezes) até encontrar novamente o trilho, neste caso um estradão estreito que me conduziria sempre a subir até ao “Suchet” a 1’587 mts.

Após realizar os primeiros três quilómetros e tendo chegado a uma estrada em alcatrão, deu-me aquele feeling cerebral, tipo “que mer.. fazes aqui, a sofrer e ainda por cima a rolar abaixo dos 2’000 mts”. Nesse momento, passa por mim um ciclista, equipado a rigor, a morrer para subir a parede em que ia entrar.

Olhei para o relógio, eram 15h30 e se queria atingir o “Suchet” eram mais 4 kms a sofrer para subir 400 mts de desnível e se tudo corresse bem, dentro de duas horas, na melhor das hipóteses, terminaria a volta.

Fiz contas à vida e cheguei à conclusão que le risque n’en valait pas la chandelle, isto porque estamos no Outono e os dias começaram a mingar, pelo que a partir das 17h30 já escurece.

Consultei a aplicação dos comboios e constatei que havia um comboio a sair de “Baulmes” para “Yverdon-les-Bains” pelas 16h00, pois bem, faço meia volta e em menos de um piscar de olhos, engoli os quilómetros que me separavam da estação de comboios 😊.

Vamos aos dados da volta.

- Altitude máxima – 1’511 mts

- Altitude mínima – 596 mts

- Acumulado de subida – 1’445 mts

- Acumulado de descida – 1’450 mts

- N° total de Kms – 27 kms

En guise de conclusion, acabo esta crónica com este pequeno Quiz.

Conseguem identificar os trolls presentes em duas fotos (ver legendas na própria foto).

Se afirmativo, enviem-nos p.f. por email as fotos com as vossas respostas e quem responder corretamente em primeiro lugar nas duas fotos (em conjunto ou individualmente), verá o seu nome aposto para a eternidade 😊 na página Wall of Fame deste site.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

Podem visualizar esta crónica e os comentários subsequentes no FORUM BTT. Ler o post (resposta) #1'020 e 1'021.