E se de repente um desconhecido lhe oferecer flores no Col do Marchairuz

Começa pois esta minha crónica com a alusão a uma publicidade muito em voga nos “eighties”, isto é, quando um estranho (no bom sentido) conhecido por mero acaso decide embarcar nas suas aventuras.

O Luís, meu atual companheiro, friso bem de voltas, não vão vossemecês pensarem que sou “fresco”, foi recrutado aquando de uma das minhas idas às Terras Lusas.

Estava eu prestes a sentar-me no meu lugar no avião, quando chegado ao local deparo-me com 3 pessoas de idade avançada em amena cavaqueira, estando uma delas a ocupar a minha “place”.

A vida ensinou-me o conceito da flexibilidade e vendo que os três tinham ar de quem pouco sabe ou respeita ao nível das regras de boa educação, resolvi propor à hospedeira instalar-me no lugar deixado vago por um dos três. Afinal podia sair-me na rifa uma boazona 😊.

Assim sendo, dirigi-me ao referido lugar e encontro lá este jovem, sim digo jovem isto porque um gajo com 44 “broas às costas” só pode achar que um tipo com 25 anos é um jovem (nunca pensei dizer isto…)

Como sempre e como mandam as regras da boa educação, cumprimentei-o e a partir daí começou uma amena conversa que durou a totalidade do tempo de viagem.

Falamos um pouco de tudo como se já nos conhecêssemos há imenso tempo. A conversa foi fluindo até que chegou à parte dos hobbies. O Luís regressava a Portugal após 3 meses de procura de trabalho, tendo tirado umas curtas férias para se retemperar já que iria começar a trabalhar dentro de alguns dias.

Disse-me que também ia a Portugal para despachar a sua fiel amiga de quem sentia imensas saudades. Vocês não conseguem imaginar quando um gajo está só num país distante as saudades que se pode ressentir de coisas tão banais.

À medida que o tempo ia fluindo e numa atitude digamos paternalista, transmiti-lhe parte do meu saber sobre como se adaptar e viver num país cujos hábitos muito diferem dos nossos.

Chegados ao aeroporto da cidade do dragão, fomos recolher as nossas “valises” e aí aconteceu um episódio caricato, isto é, quando passávamos pela zona da alfândega, não sei mas suspeito que foi por eu trazer um “look” um pouco parecido com um membro da “Al Qaeda” (barba por fazer há quase 2 meses devido a uma aposta perdida); eis que depois de ter-mos passado por um dos agentes de serviço e quase a 15 metros, este resolve apitar e para nosso espanto apenas pronunciou “controlo de bagagem”. Lá fomos para a dita sala e aí sim, uma “gata” abriu-nos as malas e começou a vasculhar todos os recantos enquanto nos bombardeava com perguntas sobre a origem dos nossos equipamentos informáticos e outros.

Sinceramente não gostei da atitude, compreendo e até posso aceitar os motivos mas não a forma como fomos tratados enquanto a busca decorria. No final como “quem não deve, não teme”, nem um obrigado, e é assim que este pessoal quer atrair mais turistas a Portugal (haja paciência).

Tudo isto para vos contar que a vida faz-se de pequenos nadas e por vezes daí nascem boas e grandes amizades.

Este episódio ocorreu em Março do corrente e desde essa altura o Luís tem sempre respondido à chamada, vindo a “combler un grand manque d’un partenaire pour mes aventures”. Obrigado companheiro.

“Bom, ça c’est juste pour la petite histoire”, mas vamos ao que interessa.

Mal o Luís recebeu a sua amada, uma Canyon “Xpto”, combinamos a nossa primeira volta. Como não sabia o estado da sua condição física, combinei uma volta que nos levasse ao “Col do Marchairuz, 1’450 mts”.

Desta vez iríamos arrancar não de “Montricher, 675 mts”, mas sim de “Bière, 693 mts”. No tempo em que lá fomos ainda não tinham cerveja de marca local, mas há dias li no jornal que tinham lançado recentemente uma marca própria, talvez por a malta como nós se ter queixado de na zona não haver “reposicionadores” de sais minerais.

Foram efetuados 43 kms. Altitude máxima: 1’495 mts. Altitude mínima: 693 mts. Acumulado de subida: 1'465 mts. Tempo em andamento: 06h30

Tenho de dar aqui publicamente os parabéns ao meu novo companheiro, pois mostrou ter unhas e embora tenhamos passado por diversas vicissitudes sempre soube manter a calma necessária. Esta zona do “Jura” não perdoa, é “f..a”.

Uma bela recruta “indeed”. Venham lá mais voltas.


Cumprimentos betetistas e até um destes dias…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

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