Em Paredes de Coura um Bravo não sabe a ponta de um Corno do Bico

Sempre que visito Portugal, tento rolar pelo menos uma vez com os meus companheiros (detesto o prefixo ex.) e acreditem que não é fácil juntá-los, aliás em quase 5 anos foi esta a primeira vez em que conseguimos rolar todos juntos.

Embora esta volta tenha sido realizada em Julho do ano que findou, agora que olho para estas chapas, bate-me uma nostalgia como há muito não sentia.

Acredito que ainda esteja sob o efeito dos líquidos ingeridos durante estas festas pois o facto de ainda estar a destilar talvez origine um circuito fechado em que as partes voláteis, neste caso as mais leves (desculpem a perissologia) voltam a penetrar-me o sistema (deixem-se disso suas mentes pecaminosas 😊).

Embora longe da vista destes amigos (Pereira, Viegas e Eduardo) afinal foi com eles que passei ao longo de muitos anos, muitos dos melhores momentos em termos de BTT, pois se o ano tem 52 semanas, eram 52 voltas garantidas. Hoje em dia é o que se vê, não porque a vontade não esteja lá mas quando nos deslocalizamos estamos sujeitos a “certaines contraintes”. Este bravo conseguiu aquando da realização desta volta a proeza de ter somente alapado a peida em cima de uma bicla apenas por 3 vezes, sendo que uma delas foi durante a sua visita em fevereiro.

Segundo o dicionário, a nostalgia é uma tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal ou ainda, um estado melancólico causado pela falta de algo ou de alguém.

No caso em apreço e porque quer queiramos ou não, a cada dia que passa, ficamos mais velhos, apercebemo-nos melhor do que realmente interessa na vida, tal como a família, os amigos verdadeiros e tudo aquilo que por breves momentos nos ocupa o espírito e nos confere alegrias intemporais.

O amigo Pereira como sempre desenhou um track que faz jus ao nome “Bravos do Pelotão”. Como já constataram em diversas ocasiões, não gostamos de voltas fáceis, pelo que acabamos por realizar sob temperaturas por vezes superiores a 30°C cerca de 50 kms para um acumulado positivo de +/- 1’500 mts.

Esta volta iniciou em Paredes de Coura e desenvolveu-se pela zona de paisagem protegida do Corno do Bico. Durante o périplo passamos por diversos miradouros tais como Penedo das Vistas, Penedo de Rebolinho, Miradouro do Alto Riomão, Chão Longo-Vascões e a famosa Anta da Cruz Vermelha (Sim, a cruz é vermelha!), onde aproveitamos para tirar uma chapa para a posteridade, afinal falamos de um monumento com a provecta idade de 4’500 anos.

Confesso que em algumas partes do trilho estive para “dar o peido”, não fosse a insistência do grande timoneiro Pereira e acredito que sem as suas palavras “d’encouragement” teria abortado a volta. Pois é amigos, nestas ocasiões a falta de treino não perdoa!

A altitude mínima foi de 356 mts e a máxima de 856 mts, no entanto esta volta é enganadora pois após 20 kms, aguarda-nos uma subida de quase 10 kms e logo a seguir quase 8 kms sempre a descer. Como constarão pelas chapas há trilhos para todos os gostos e aliás foi numa dessas descidas que falhamos a visita à famosa “Mesa dos Quatro Abades”.

Trata-se de uma mesa em granito que se apoia no marco divisório das quatro freguesias (Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte). Em cada uma das faces estão gravadas as iniciais do nome da freguesia a que corresponde a mesma face.

A mesa é ladeada por quatro bancos também em granito, cada um assente no território de cada freguesia confinante.

A tradição remonta ao Séc.XVII e consta que os representantes de cada paróquia sentavam-se aqui para debater e resolver os mais diversos assuntos, consultando os paroquianos que se encontravam ao seu redor.

De salientar que em algumas partes do trilho temos vistas divinais sobre Ponte de Lima e o rio Lima.

Uma vez que estamos no início do ano e sei que muitos de nós enfrentam ou enfrentaram situações menos boas no correr do ano que findou, deixo-vos aqui uma visão de alguém por quem simpatizo e que tal como eu defende e acredita na felicidade como motor da vida.

Longe de mim inculcar o quer que seja a quem quer que seja, mas quiçá estas poucas palavras possam abreviar a dor que muitos ressentem neste momento ou possam ressentir “prochainement” 😊.

“Podes ter defeitos, estar ansioso e viver irritado algumas vezes, mas não te esqueças que a tua vida é a maior empresa do mundo.

Só tu podes evitar que ela vá em decadência.

Há muitos que te apreciam, admiram e te querem bem.

Gostaria que recordasses que ser feliz, não é ter um céu sem tempestades, caminho sem acidentes, trabalhos sem fadiga, relacionamentos sem deceções.

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza.

Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos.

Não é apenas ter alegria com os aplausos, mas ter alegria no anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar ator da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no longínquo de nossa alma.

É agradecer a Deus cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “não”.

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que seja injusta.

É beijar os filhos, mimar aos pais, ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles nos magoem.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples, que vive dentro de cada um de nós.

É ter maturidade para dizer ‘enganei-me’.

É ter a ousadia para dizer ‘perdoa-me’.

É ter sensibilidade para expressar ‘preciso de ti’.

É ter capacidade de dizer ‘amo-te’.

Que tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz…

Que nas tuas primaveras sejas amante da alegria.

Que nos teus invernos sejas amigo da sabedoria.

E que quando te enganares no caminho, comeces tudo de novo.

Pois assim serás mais apaixonado pela vida.

E podes facilmente encontrar novamente que ser feliz não é ter uma vida perfeita.

Mas usar as lágrimas para regar a tolerância.

Usar as perdas para refinar a paciência.

Usar as falhas para esculpir a serenidade.

Usar a dor para lapidar o prazer.

Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.

Nunca desistas….

Nunca desistas das pessoas que amas.

Nunca desistas de ser feliz, pois a vida é um espetáculo imperdível!”

Queria acabar esta crónica, partilhando convosco a mensagem enviada pelo amigo Pereira uns dias após a realização desta volta e que na minha opinião tão bem define o espírito que motiva cada um dos nossos encontros.

“Boa tarde meus senhores,

Foi de facto um dia memorável! Agora já posso descansar em paz, em qualquer altura!... Pois, o dia vivido ficará na minha memória, para sempre…

Mesmo que num futuro próximo ou mesmo longínquo, um encontro desta natureza não volte a acontecer, este dia, valerá sem dúvida, por qualquer impossibilidade de ajuntamento das tropas…

Meus senhores, finalmente aconteceu! Viveu-se uma jornada extraordinária de btt… Um daqueles dias, como disse o Eduardo: “Esta vai ser para emoldurar”.

Como o principal mentor deste evento, embora a vontade de reencontro fosse de todos nós, queria agradecer a vossa disponibilidade, a vossa entrega, sem qualquer tipo de queixa, ao longo dos cerca de 50 km. De vós, também não esperaria outra coisa! Nestes tempos tão conturbados de desemprego, de emigração e de insatisfação profissional, conseguimos, todos nós, ao longo de 9 horas, esquecer a nossa realidade e vivermos, sofrendo em cima de duas rodas, o prazer, que já foi nosso, todos os sábados de cada semana, de cada mês, fizesse chuva, sol, neve, com alertas amarelos, laranjas e outros que tais! Durante várias horas senti-me mais jovem 6/7 anos!

Queria expressar os meus sinceros parabéns ao Eduardo e ao Alex, sendo eles os que menos tem pedalado, menos tem treinado, no entanto, não viraram a cara ao desafio; lutaram com todas as suas forças, conseguindo fazer aquilo que muito boa gente que pedala todas as semanas, não consegue! Parabéns Bravos! Quanto ao Bravo Viegas, venham mais subidas em terrenos todos escavacados, só assim têm interesse; são todas para fazer, mesmo que seja numa outra ocasião, numa outra reencarnação... O falhanço das subidas, não lhe assiste! O Bravo regressará para fazê-la…

O futuro apresenta-se, de uma forma geral negro, até pode ter as cores que quiser, porque um dia como aquele que vivemos, já ninguém no-lo tira! É de todos nós! Até pode vir a ser considerado uma preciosidade, quiçá!

Obrigado a todos.”

Não meu amigo, obrigado a vocês, obrigado por deixarem os vossos afazeres e dedicarem um pouco do vosso tempo a este vosso camarada que nunca vos esquece apesar da distância que nos separa 😊.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

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