Em Viade de Baixo este Bravo deu de caras com um troll

“Não se é de parte nenhuma enquanto não se tem um morto debaixo da terra”, segundo Gabriel Garcia Márquez; pois fiquem sabendo que já conto com alguns e cada vez que regresso ao país, mais vontade tenho de não partir, que como sabem, difere da vontade de ficar (só para entendidos 😊).

Assentei arraiais durante quinze dias nas Terras Lusas e como não podia deixar de ser o amigo Pereira para não fugir à regra, presenteou-me e a mais três companheiros dos “Toupeirinhas do Pedal” (Nicolau, Barros e Rolando (os suspeitos do costume)) com uma volta para os lados das Terras de Barroso, com passagem obrigatória pela albufeira da Barragem do Alto Rabagão mais conhecida por Barragem dos Pisões (94 mts altura e comprimento de 1'897 mts).

A pedido do amigo Barros, a volta iniciaria na aldeia de “Viade de Baixo” a 917 mts já que no final este organizaria um lanche ajantarado só com produtos típicos da região (presunto, enchidos, folar, queijos, etc…), tudo isso regado com um tinto da região ou umas loiras para quem não é amante de vinum.

Embora a volta só iniciasse às 09h00, pelas 08h30 e quase 80 kms depois (o Pereira não perdoa, velhos hábitos do seu tempo de militar 😊) já me encontrava a admirar a belíssima igreja de “Santa Maria de Viade”, uma das mais antigas senão a mais antiga do Barroso (ver as três primeiras fotos). Foi aí que se deu um episódio caricato, isto é, uma constatação e interpretação de factos que somente agora com 47 anos ecoaram no meu espírito, talvez porque tive tempo nestas férias para cogitar 😊, passo a explicar. Enquanto observava a igreja vi as campas na entrada principal da igreja e outras no exterior junto à igreja, sendo que o cemitério se encontrava a cerca de 500 mts, e foi aí nesse preciso momento que compreendi que afinal a Maria, a tal da Fonte, não passava de uma arruaceira, pois segundo dizem, esteve na origem da revolta que ocorreu aquando da publicação da lei que proibia a realização de enterros dentro de igrejas. Os mais puristas e acérrimos defensores da Maria da Fonte que me desculpem, mas também não acredito que uma mulher do povo, iletrada ver mesmo analfabeta, naquele tempo estivesse contra a promulgação de leis alusivas a alterações fiscais 😊.

“Ejecs” à parte, como poderão constatar pelas fotos, esteve um dia quente com temperaturas acima dos 30ºC e nestas zonas de grandes descampados causados por incêndios de anos anteriores, transpiramos que nem “boeufs” 😊.

O gráfico da altimetria com a sua forma característica de serrote não deixava dúvidas, iriamos ter um sob e desce constante com algumas subidas de respeito.

No final a volta saldou-se em +/- 55 kms para +/- 1'400 mts de desnível (+), sendo a altitude mínima de 863 mts e a máxima de 1'145 mts.

Neste momento estarão vocês a perguntarem-se, mas onde estará o “cara…” do “troll”?

Pois é meus amigos, das duas uma, ou estão como eu, para ver ao perto só mesmo com óculos de ver ou pura e simplesmente saltaram uma das fotos. Confesso que aquando do carregamento das fotos ainda estive para fazer a vermelho os contornos do dito cujo, mas deixo-vos usar a vossa imaginação e quiçá algum leitor ou leitora não quererá despender algum do seu precioso tempo e partilhar connosco o fruto da sua imaginação 😊 (afinal este é um lugar público que já viveu melhores dias e o meu objetivo com as minhas publicações é mesmo fomentar a troca, a partilha e não deixar morrer este espaço).

Nunca tinha rolado para estas bandas, mas como podem constatar e segundo o companheiro Barros, o que não falta aqui é pano para mangas, haja vontade e tempo.

Confesso que sempre que me desloco para estas bandas, a caminho da Barragem dos Pisões alembro-me do meu avô e do meu pai (paz às suas almas), o primeiro porque trabalhou numa das pedreiras (agora transformada em saibreira e que se encontra à face da estrada, a cerca de 2,5 kms dos Pisões (isto se um dia passarem para estas bandas)) que alimentou a construção da barragem, daí ser mais conhecido por Manuel Barroso; o segundo porque também aí trabalhou para ganhar o primeiro dinheiro para o primeiro par de botas aos 10 anos (tempos difíceis pois antes disso era descalço) e hoje em dia dá-me um certo gozo quando alguém diz que sou filho do Zé Barroso, pois este ensinou-me pelas suas ações ao longo da vida que o valor de um homem não se mede em dinheiro, status ou posses. O valor de um homem reside na sua personalidade, sabedoria, criatividade, coragem, independência e maturidade.

Peço desculpa aos leitores e leitoras por misturar elementos pessoais com vossemecês mas já por diversas vezes senti necessidade de partilhar convosco um pouco das minhas estórias (quem escreve sabe do que falo 😊), pois se porventura algum dia vier a sofrer de Alzheimer, pelo menos tenho a sensação que algo ficou publicado acerca das pessoas que fizeram parte da minha vida 😊.

Tás a entrar na casa dos cinquenta amigo! Pensarão alguns de vós 😊.

Não podia acabar esta crónica sem agradecer publicamente ao Pereira (track), Barros (comes e bebes), Nicolau e Rolando (companhia) e sobretudo por terem tido a disponibilidade necessária para partilharem um momento comigo.

Dou por findo este texto com uma tirada de Voltaire que diz “Deus concedeu-nos o dom de viver; compete-nos a nós viver bem”.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

Podem visualizar esta crónica com os respetivos comentários às fotos no FORUM BTT. Ler o post (resposta) #701 e 702.