La Bisse du Ro ou a afirmação do engenho humano

Por vezes sou obrigado a deixar em casa a minha fiel companheira para poder aceder em segurança (sempre aparente e subjetiva) a lugares que de outra forma se tornariam inacessíveis.

Desta vez e porque em pesquisas na net descobri uma palavra que me deixou intrigado de nome “Bisse”. Ao satisfazer a minha curiosidade descobri tratar-se de um tipo de construção criada no séc.XIV (Idade Média) e que servia para o transporte de água da alta montanha para as planícies. Nesta zona (Valais) existem cerca de 34 bisses construídas entre os 700 mts e os 2’500 mts. Após analisar as diferentes propostas optei por visitar aquela que me pareceu a mais espetacular em termos de dificuldade quanto à suplantação dos obstáculos encontrados aquando da sua construção.

As fotos falarão por si e desde já informo que esta volta não é aconselhável a cardíacos ou a quem sofra de vertigens. Em muitas zonas do trilho a adrenalina esteve ao rubro tal era a sensação de perigo. Aproveito a ocasião para sossegar os familiares que vierem a ler esta crónica de que independentemente da beleza paisagística de uma volta, esta só será na minha opinião uma “boa volta” se chegar a casa são e salvo, portanto “no worries”.

À medida que ia avançando ao longo do trilho fiquei com uma sensação de admiração por estas gentes que com engenho e sem dinamite, conseguiram ultrapassar obstáculos que à partida pareciam intransponíveis.

Devido aos elevados custos de manutenção e fugas de água, o transporte do precioso líquido a céu aberto acabou por ser efetuado através de um túnel escavado no Mont-Lachaux em 1947, tendo ficado o trilho para deleite dos nossos sentidos.

A bisse mais comprida “Grand Bisse de Lens” tem 13 kms e a mais alta “Bisse de Audannes” inicia aos 2’540 mts. A mais antiga é a “Bisse du Sillonin” construída em 1367 e que hoje em dia ainda irriga os vinhedos de “Saint-Léonard”.

Como antigamente (Idade Média) as pessoas não sabiam ler nem escrever (hoje em dia sofremos de um outro tipo de analfabetismo), o sistema encontrado para informar as famílias de que parte do dia (manhã/tarde) lhes pertencia para a rega foi colocar suspenso na casa do regedor da aldeia (L’Évouen) um grosso pau com marcas das respetivas famílias. Conforme a localização da marca (acima ou abaixo de uma linha) estas ficavam a saber o horário.

Sendo a construção das “Bisses” um trabalho muito perigoso e na ausência de máquinas, dinamite ou ferramentas, os operários protegiam-se com a fé em Deus e com o seguinte credo “Deus abençoa o trabalho e protege todos aqueles que o amam”.

Desde Lausanne até à barragem de Tseuzier devemos contar com cerca de 2h10 (entre comboio e autocarro). Acabei por realizar 18,5 kms em +/- 5h00 de caminhada, sendo a altitude máxima 1’906 mts e a mínima de 1’478 mts.

É meu desejo que ao lerem esta crónica tenham vivenciado um pouco das sensações de que fui acometido enquanto percorria este trilho.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

Podem visualizar esta crónica com os respetivos comentários às fotos no FORUM BTT. Ler o post (resposta) #193.