Quem sobe ao Mont d’Or não encontrará ouro

Dizem que o homem é um ser insatisfeito por natureza, digo isto porque a minha última aventura pelos lados do “Jura” soube-me a pouco.

Há muito que desejava conhecer a vila de “Vallorbe” (790 mts) e a montanha que por detrás dela fica.

Essa montanha chama-se “Mont D’Or” (1’463 mts) e desengane-se quem pensar que no seu cimo irá encontrar um monte cheiinho de moedinhas de cor amarela ou outro metal de valor. A única coisa a meu ver a mais importante que encontrará lá em cima são umas vistas fenomenais sobre o “Jura” para ambos os lados (francês e suíço). Do cimo do “Mont D’Or” conseguimos inclusive ver o “Mont Blanc” (4’758 mts) que em linha reta fica a 110 kms. Nesse dia ainda consegui ver parte da montanha embora o nevoeiro impedisse qualquer registo digno.

Antes de começar a ascensão propriamente dita resolvi conhecer um pouco de “Vallorbe” e das suas cercanias e acreditem que valeu mesmo a pena seguir aquele trilho junto ao rio “Orbe” até atingir a ponte aqui documentada para a posteridade.

Embora a diferença de altitude entre o início e o fim da subida ser de apenas 708 mts, o problema reside no facto de em muitas zonas do trilho termos inclinações superiores a 35%.

Chegado ao topo, aguardavam-me muitas amigas de 4 patas, as quais nem me passaram cartão, continuando entretidas a pastar, tal como se eu não existisse.

O local encontrava-se repleto de “randonneurs” que vinham admirar as vistas e tentavam alcançar com o olhar o “Mont Blanc”, mas azar, há dias assim.

Realizadas as fotos da praxe e que fotos, então aquela encosta, achei por bem continuar a minha viagem.

A descida embora fácil, tornou-se complicada devido ao trilho atravessar muitos terrenos fechados por cercas e portadas de arame farpado. Sem mentir, no final do dia, devo ter aberto e fechado mais de 50 portadas. Estas, para além de nos obrigarem a rolar com extremo cuidado, não fosse apanhar uma no final de uma curva, tornam-se ainda mais perigosas porque as vacas estão tão habituadas a que alguém as venha alimentar ou as liberte a determinadas horas que mal me viam a aproximar; vinham logo como quem não quer a coisa, cheirar-me e quando um “gajo” dá por ela, tem à sua frente mais de 50 vacas, todas com vontade de sair o que nos faz pensar duas vezes em sair dali o mais rapidamente possível.

Houve uma altura em que vi umas vacas pretas e ainda por cima com cornos maiores que o habitual. Comecei a mira-las ao longe para ver se tinham tetas ou outro órgão, afinal não me enganei, eram toiros efeminados, tinham-nos castrado e estavam ali só para encher monte (triste sina a deles, com tanta carne de vaca ali à mão e não poderem fazer nada) e digo eu que tenho uma vida difícil…

Enquanto deambulava por essa zona, penetrei por diversas vezes a França (a única coisa que neste momento me é permitido penetrar. Longe vão os dias em que penetrava em tudo o que era lugar 😊), pelo que quando dei por ela, já me encontrava perto do local onde se encontram as famosas “Grottes de Vallorbe”, que se prologam por quase 3 kms. Mais informações em www.grottesdevallorbe.ch. Como a visita só pode ser realizada a pé, não são permitidas biclas, não deu para tirar fotos, para além de que para aceder à sua entrada é necessário descer “à la patte” uma encosta bastante abrupta. No futuro justifica-se uma visita.

Descontente com essa situação, resolvi seguir viagem até alcançar o “Juraparc”. Neste parque, encontramos ursos, lobos, linces, bisontes e cavalos “Przewalski” (da Mongólia), mais informações em www.juraparc.ch. Mas aqui nova desilusão uma vez que o parque mais parece um “bunker” pois é impossível ver o quer que seja ao longe já que o mesmo encontra-se completamente vedado e para aceder, somente através de aquisição de bilhete.

Como a viagem estava a correr menos bem do que o previsto, optei por seguir caminho até ao “Lac de Joux” (9,5 kms de comprido por 32 mts de profundidade máxima) que se caracteriza por estar colado a um pequeno lago chamado “Lac Brenet”. Estes dois lagos vistos ao longe, mais parecem duas poças de água, separadas por uma ponte. A paisagem em redor deste lago é fantástica e para além disso esta zona possui ligação de comboio (linha única).

Após ter feito algumas fotos ao redor do lago sob alguma pressão uma vez que estava a decorrer uma prova de atletismo (corrida em redor do lago) e dado o avançar da hora, recolhi-me na estação de comboios onde aguardei pelo comboio que me reconduziria ao ponto onde tudo começou.

Acabei a volta com cerca de 37 kms e um desnível acumulado de 1'370 mts. Ao longo do dia esteve bastante calor, associando a isso o facto de “à plusieurs reprises” ter sido impedido de realizar o pretendido, acabei por ficar sem “pica” necessária para levar a bom porto a minha missão (sim porque havia mais, mas ficará para uma próxima oportunidade).

Gosto do “Jura” sobretudo pelas frondosas florestas, mas adoro em particular o “Valais”, isto porque aqui, conseguimos sempre “mantenir le cap”, temos pontos de referência, enquanto que no “Jura” andamos sempre com a sensação de estarmos perdidos, pois as árvores (algumas com mais de 30 mts) impedem que saibamos a todo o momento onde nos encontramos.

As minhas próximas crónicas serão na minha zona d’eleição, vou ver o que consigo descortinar. Até lá, desejo a todos os users (leitores e comentadores) umas boas férias.


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira

Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

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