Em Bière não deu para tomar uma bière
Diz o povo na sua imensa sabedoria que quando um homem sonha, a obra nasce, mas nem sempre é assim.
Passaram-se quase 6 meses desde a minha última incursão em montanha, sendo que esta somente foi possível porque achei que já era tempo de pôr um compasso de espera à escravatura laboral a que tenho vindo a ser submetido. Como sabem em termos laborais, quanto mais responsabilidade, menos tempo livre para tudo o resto.
Como já referido em crónicas anteriores, todos os dias enquanto me desloco para “Genève”, sou obrigado a passar pelos montes paralelos à linha de comboio, que dão acesso à “Vallée de Joux”. Ora estes, há mais de um mês que não apresentavam neve nos seus cumes, digo não apresentavam porque como vim a constatar e como já dizia a minha avó “atrás de um monte há sempre um outro monte”; afinal enganei-me porque a neve ainda está bem presente embora já estejamos em abril.
Iniciei o meu périplo em “Bière” a 693 mts e sabia de antemão que teria uma subida com cerca de 12 kms até atingir o ponto mais alto da volta 1’495 mts. Tudo corria conforme planeado quando a partir dos 1’300 mts contactei com as primeiras neves. Esta experiência recordou-me uma ventura similar ocorrida na crónica 042 quando devido à mesma situação tive de abortar a volta e regressar uma 2ª vez para subir o “Mont Tendre”.
Enquanto congeminava fui avançando, lentamente, muito lentamente por um trilho alternativo cheio de neve com algumas aberturas de permeio. Nisto passam por mim dois atletas de “Trail Running” que me lançaram aquele olhar típico “Oh man, que merda é que fazes aqui!”.
Para quem já passou por isto, este olhar é mortal pois basta olhar para percebermos logo o que lhes vai na alma. É mesmo como diz a pub “um olhar vale por mil palavras”. Assim que passaram por mim, pensei ”Bem se estes gajos estão cá é porque não há problema, é apenas alguma neve atrasada, nada mais!”.
Com este pensamento em mente lá fui progredindo, mas à medida que avançava, mais neve surgia, parecia mesmo que qualquer entidade superior se entretinha a dificultar-me a vida.
Quem me conhece e todos aqueles que acompanham estas crónicas desde a sua génese, sabem que não sou nem nunca fui de desistir à primeira; é preciso muito mais, mas acreditem que ao fim de 4 kms com os pés enterrados na neve por vezes quase até aos joelhos, o espírito e vontade de progredir esmorece. Se a isto somarmos a sensação de desconforto motivada pelo frio e ausência de roupa adequada para baixas temperaturas, então a festa fica completa.
A conjugação de todos estes fatores fez com que por volta dos 1’400 mts decidisse “rebrousser chemin” e regressar à base.
Pela segunda vez uma volta quebrou este “Bravo” e acreditem que não é fácil, mas por vezes temos que nos render à evidência.
Termino, sem antes, citar Louis Pasteur “Sejam quais forem os resultados com êxito ou não, o importante é que no final cada um possa dizer: 'fiz o que pude'." e não poderia estar mais de acordo.
Cumprimentos betetistas e até um destes dias…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
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